O ato de ser “bacana”
A Compaixão é algo a se refletir sempre. Você se acha uma pessoa compassiva?
Uma vez perguntei para uma paciente o que ela entendia por “ter compaixão” e ela disse que estava relacionado a sentir pena do outro. Ter pena é um sentimento que a dor do outro pode gerar em você, mas compaixão está relacionada à sua atitude frente ao sofrimento do outro.
É importante checarmos os entendimentos que as pessoas à nossa volta tem, de senso comum, sobre termos relacionados às emoções.
Em terapia vamos tratar compaixão como a atitude de respeito, aceitação (que não quer dizer concordância), e tratar de forma compreensiva a pessoa que sofre, respeitando suas experiências dolorosas, frustrações, fracassos e perdas. Isso diz respeito a “estar lá pelo outro” sem tentar mudá-lo ou minimizar sua dor. Deixar claro que sabe que está doendo e está com ele para o que precisar.
Quando você assume uma postura de tentar fazer o outro achar que está exagerando no próprio sentimento, que não é bem assim ou até de ficar sugerindo formas para que ele possa agir e resolver o problema como se fosse fácil, dizendo que ele deveria ter feito isso ou aquilo, vai fazer com que ele se sinta incompetente em lidar com suas próprias questões. Isso não é compaixão, é invalidação do outro!
Tem muita gente que diz ter a habilidade da compaixão, mas quando eu pergunto sobre o que ela faz por si mesma quando está em momentos mais delicados, dolorosos, mostrando a sua auto compaixão recebo como resposta, em geral, que ela não entendeu a pergunta, não pensou sobre o assunto ou ela se exige tanto, sempre com o chicote na mão, que não se permite agir assim consigo mesma. São pessoas que tem pensamentos de perfeição, às vezes se cobrando por não conseguirem o que querem, se julgando e rotulando como fracas por chorarem diante de um sofrimento. Quando se está diante de algo que não se pode mudar ou gerenciar, às vezes o que há é simplesmente experimentar as emoções que acompanham, com auto compaixão.
A auto compaixão diz respeito a ser compreensiva com as próprias dificuldades, tendo aceitação pela própria dor, se permitindo sentir sem tentar mudar, sem se julgar por estar se sentindo de determinada forma, sem diálogos internos que apontem suas fraquezas. Em resumo gosto de dizer que uma pessoa é auto compassiva quando ela é tão bacana consigo mesma quanto é capaz de ser com outra pessoa que esteja passando pelos mesmos desafios, problemas, dificuldades ou sofrimentos. E você, quando a tensão aperta, você é bacana consigo mesma?
Ser cientista ou juiz das próprias emoções é a questão. Essa analogia pode ajudar muito. Você, como cientista das suas emoções, é curioso, se pergunta o que exatamente se passa com você, acolhe o sentimento, respeita e se dá o direito de vivenciar o que está sentindo. Já como juiz, você se recrimina, se pune, se diminui, questiona o porquê de estar sentindo aquilo e se julga errado ao sentir. Quando você é juiz, se cobra um jeito certo de sentir e de manifestar o que sente, é cruel consigo mesmo! Você pode passar a observar qual papel você assume quando o assunto são suas próprias emoções. Isso te ajudará a ter clareza e até a escolher se tratar com mais compaixão nos momentos de fortes emoções! Experimente!